1 minuto no café 26.12.2022

1 minuto no café 26.12.2022

 

Ainda sentindo os efeitos da geada do ano passado, 2022 foi o segundo ano de produção de café arábica abaixo do que o estimado pelo setor. O resultado, consequentemente, foi de mais um ano com desafios para a indústria nacional de café. O ponto positivo é que o consumo se manteve, inclusive, com expectativa de aumentar em 2022.

Os dados oficiais da Companha Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de arábica do Brasil deste ano é de 32,7 milhões de sacas, o que representa alta de 4,1% em relação ao ciclo anterior, mas ainda volume abaixo do ideal para abastecimento interno e exportação do produto.

De modo geral, a expectativa do setor cafeeiro nacional é que no próximo ano, se as condições climáticas continuarem dentro do ideal, que o produtor de arábica veja uma recuperação na produção, mas, para a indústria a retomada e ajustes nos preços deve ser mais lenta, já que a tendência é de mercado travado até que se entenda o potencial da produção brasileira no ano que vem.

Traçando uma linha do tempo e fazendo um balanço sobre o ano de 2022, Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café, volta ao mês de março, quando a indústria ainda se preparou para aplicar o repasse para os demais elos da cadeia.

“Demorou em torno de 6 a 8 meses para a indústria conseguir recompor a sua margem minimamente aceita para remunerar seus respectivos negócios, tendo até março acumulado entre 120 e 125% de alta na matéria prima (arábica e conilon) de quando aconteceu a geada ea indústria ainda em março acumulava algum resíduo alto e ainda repassando os aumentos exponenciais em um curto espaço de tempo, de julho até março”, explica.

Deste montante, os dados da ABIC mostram que aproximadamente 55% da alta foi repassada ao varejo. É importante destacar que o café representa cerca de 65% dos custos pagos pela indústria, e segundo o presidente ainda seria necessário o repasse entre 7 e 10% para o setor conseguir fechar as contas com mais tranquilidade.

Durante todo o ano a indústria precisou estudar o cenário de trabalho e se enquadrar nas novas dinâmicas de mercado, acompanhando as estimativas oficiais de safra do Brasil, fato que ajudou a manter a volatilidade dos preços acentuada durante os 12 meses do ano.

“Se deparar com uma revisão da Conab em meados de maio, derrubando em dois milhões de sacas a expectativa da colheita, foi outro impacto devastador para a indústria que já acumulava perdas e não conseguia repassar os aumentos acumulados para o varejo”, complementa.

Entre os meses de outubro e novembro, o setor cafeeiro observou volatilidade ainda mais intensas nos preços da commoditie na Bolsa de Nova York (ICE Future US). O retorno das chuvas no Brasil, as primeiras impressões da safra 23 e principalmente a migração dos fundos de commodities para o mercado de capitais, justificaram a intensa oscilação nos preços.

“Os fundos não perdoam. Saíram da posição comprada de commodities para os mercados de capitais, haja vista a  grande expectativa de aumento de juros”, afirma Pavel se referindo aos impasses econômicos nos Estados Unidos e na Europa.

Todos esses fatores pressionaram os preços na Bolsa. As cotações que chegaram a ser negociada acima dos 200 cents/lbp em Nova York, voltaram a ser negociados abaixo deste valor e atualmente estão na casa dos 170 cents/lbp.

“O retorno, no entanto, foi rápido. Uma curva quase de mergulha e uma ascedencia extremamente veloz. E a causa para isso a gente explica com a indústria que precisava repor os estoques, os produtores com receio de vendas esperando por uma melhora nos preços e o receio do próprio comerciante de café com essa mudança de governo, ninguém sabe o que vem por aí”, afirma.

Podemos afirmar que os negócios que já estavam lentos, desde novembro o mercado está ainda mais travado. Além desses fatores, o produtor também espera a virada do ano fiscal para realizar novos contratos. Em termos de negociação, segundo especialistas, a expectativa é que a retomada seja observada só em janeiro e ainda assim depois das chuvas na importante fase de desenvolvimento da safra.

“A mistura desses elementos todos foram de um ano extremamente desafiador para todo setor café. A indústria que sofreu com uma expectativa de abastecimento que foi extremamente volátil, preocupante e uma variação de preço que foi alucinante”, complementa.  Para suprir a quebra no arábica, a indústria passou a demandar mais do conilon no mercado interno. O reflexo disso, inclusive, foi a queda no volume de café conilon exportado pelo Brasil durante o ano.

Para 2023, Pavel destaca que os desafios continuam a começar pela incerteza que o setor ainda tem em relação ao tamanho da safra 2023.

“Sem dúvida essa dinâmica que vai permear no nosso setor até termos efetivamente a confirmação desses  números por órgãos oficiais (Conab e IBGE). Enquanto a gente não tem esses números oficiais, vamos ficar “passeando” entre as informações que cada setor enxerga pela metodologia das suas pesquisas e a volatilidade permanece. Sem dúvida será uma safra maior, todos têm esse sentimento. Afinal essa safra atual ainda foi prejudicada pela geada, mas é natural que no ano que vem que as lavouras que não tiveram produção neste ano, tenha no ano que vem. Qual o tamanho dela? A conferir”, complementa.

Diante dessa volatilidade e a expectativa de números que ainda não são oficiais, somada às margens exatamente como a indústria vem trabalhando, a queda nos preços nas gôndolas do supermercado só deve acontecer quando o volume da nova safra se confirmar. “Até lá muita volatilidade, muita tensão e muita cautela por parte do industrial, por parte do produtor e naturalmente do consumidor”, acrescenta.

Fonte: Notícias Agrícolas